Nos últimos anos, o Vasco tem enfrentado uma série de turbulências em sua relação com a SAF, a empresa que controla o futebol do clube. Embora a parceria seja relativamente recente, já houve diversos momentos de atrito entre as partes.
Logo após a venda do futebol do Vasco para a SAF, em setembro de 2022, surgiram os primeiros problemas. O então CEO da SAF, Luiz Mello, que já atuava como CEO do clube, começou a enfrentar resistência dentro da associação. Luiz Mello, que participou ativamente da transição para o modelo de empresa, ganhou força com a chegada dos americanos, mas também começou a colecionar inimigos.
Pressionado pelos vice-presidentes da gestão anterior, o presidente Jorge Salgado decidiu demitir Luiz Mello. No entanto, a 777 Partners, empresa controladora da SAF, decidiu bancar o diretor e a relação entre clube e empresa ficou estremecida. A insatisfação com a SAF cresceu à medida que o Vasco enfrentava problemas no Brasileirão de 2023, com dívidas acumuladas na compra de jogadores.
Com a pressão interna e externa aumentando, o clube intensificou as cobranças sobre Luiz Mello. O clima ficou insustentável e o CEO foi convidado pela 777 Partners para assumir um cargo do grupo no exterior, encerrando sua passagem pelo Vasco. A relação entre o clube associativo e a SAF melhorou com a efetivação de Lúcio Barbosa como CEO.
Vasco e a 777 Partners em conflito
Após a saída de Luiz Mello, o Vasco e a SAF viveram um breve período de trégua. No entanto, essa fase de calmaria não durou muito tempo. No segundo semestre de 2023, a 777 Partners atrasou o aporte financeiro previsto em contrato para a SAF. O valor, cerca de R$ 100 milhões, deveria ter sido depositado na conta do clube até 5 de setembro, mas houve um período de carência de 30 dias.
No último dia dessa carência, a 777 informou ao Vasco que havia depositado parte do dinheiro e que o restante seria pago nos dias seguintes. O atraso incomodou o clube e Jorge Salgado chegou a considerar notificar a empresa. Contratualmente, o clube teria o direito de recuperar 51% das ações da 777 pelo valor simbólico de R$ 1 mil. O clima de apreensão e desapontamento se instalou no Vasco.
O terceiro ato dessa relação conturbada ocorreu na gestão de Pedrinho, o atual presidente do clube. Dois meses após assumir o cargo, Pedrinho já demonstra insatisfação com a SAF, desejando ter mais diálogo e acesso a informações. Como sócio minoritário, ele entende que não tem a palavra final, mas gostaria de ser ouvido sobre o destino dos investimentos.
A SAF, como detentora de 70% das ações, tem o poder de tomar as decisões no futebol do Vasco, enquanto ao clube associativo cabe fiscalizar o cumprimento das cláusulas contratuais. A relação entre as partes é descrita como fria, esporádica e cheia de pendências. Pedrinho deseja resolver a insatisfação diretamente com a 777, mas até o momento não houve acordo quanto à data do encontro.
Durante a coletiva de imprensa, Pedrinho respondeu por nove vezes com a expressão “não posso falar”, justificando que há cláusulas de confidencialidade que o impedem de expor questões internas e possíveis discordâncias com os gestores da SAF. Essa cautela se deve a uma notificação recebida pela SAF, em fevereiro de 2024, alertando sobre possíveis multas por vazamento de informações do contrato com a 777 Partners.